MEC vai cortar 50 mil vagas de instituições com nota baixa no Enade
Grasielle Castro - Correio Braziliense
Publicação: 18/11/2011 06:15 Atualização:
Um terço das instituições de ensino superior brasileiras estão abaixo da média e terão parte de vagas cortadas. Das 2.176 instituições que passaram pela avaliação do Ministério da Educação (MEC) — que levou em conta a nota do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) em 2010 —, 683 tiraram notas 1 ou 2, consideradas baixa, ou seja, 31% do total. No DF, 19 unidades de ensino superior tiveram desempenho insatisfatório (leia matéria abaixo).
Com base nos dados do Enade, o MEC pretende extinguir cerca de 50 mil vagas. Essa suspensão atingirá graduações de ciências da saúde — principalmente enfermagem —, de ciências contábeis e de administração. A medida já vale para 2012.
No ano passado, 19 cursos foram avaliados (Veja quadro). Somente 148 unidades de ensino atingiram notas 4 e 5, consideradas boas pelo Índice Geral de Cursos (IGC), enquanto 985 ficaram na média. O conceito varia de 1 a 5 e é composto pela avaliação dos cursos oferecidos pela instituição. A nota 3 é considerada satisfatória.
Nem todas as faculdades e universidades que não alcançaram a média, porém, terão de reduzir a quantidade de alunos matriculados, pois o IGC é construído ao longo dos anos e, além da prova aplicada aos alunos, inclui outros itens, como a estrutura física das unidades de ensino e a titulação dos professores. As graduações são canceladas apenas se não conseguirem superar as deficiências no intervalo de um ano.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, explicou que a avaliação ajuda a aumentar a qualidade no ensino superior. “A metodologia vai ser empregada para corrigir uma oferta abusiva e sem qualidade, em alguns casos. Ao mesmo tempo que faculdades vão ganhar mais liberdade quando estiverem com a questão da qualidade bem equacionada”, justificou. A mesma medida já foi tomada em anos anteriores para os cursos de direito, de medicina e de pedagogia.
Em outros anos, o governo chegou a considerar a possibilidade de suspender todas as matrículas de instituições que não passavam no exame. Para Haddad, porém, os critérios adotados agora são mais justos. “O ajuste quantitativo e o plano de saneamento de deficiência foram as medidas certas e calibradas para que a qualidade de 95% dos cursos de medicina que estavam sob supervisão melhorassem”, argumentou.
Expansão
Apesar de reduzir vagas ou mesmo fechar cursos que tiram notas baixas, o Ministério da Educação não abre mão do projeto de ampliação do ensino superior e segue autorizando o ingresso de mais alunos em instituições bem avaliadas. No caso do curso de medicina, 446 serão extintas, mas outras 320 estarão disponíveis no próximo ano. “Queremos que a expansão continue, mas com qualidade”, afirmou Haddad.
As 14 universidades federais mais novas do país são exemplos do que o ministro deseja. Nove delas conseguiram notas entre 4 e 5 e entraram no time das melhores do país, formado atualmente, majoritariamente, por instituições públicas. Entre elas, a mais bem avaliada foi a Unicamp, de Campinas (SP), com conceito 5. Os primeiros lugares ficaram com as particulares Escola Brasileira de Economia e Finanças, Faculdade de Administração de Empresas e Escola de Economia de São Paulo, garantiram as seguintes notas: 4,89, 4,74 e 4,73, respectivamente. A Universidade de Brasília (UnB) é a 31ª colocada no ranking geral e 12ª no que inclui apenas as federais, com IGC de 3,91.
Destaque
O Ministério da Educação avaliou 2.176 instituições de ensino superior, sendo 229 públicas e 1.947 privadas. Dessas, 77 unidades particulares garantiram notas 4 e 5, consideradas boas.
Em análise
Em 2010, 19 cursos foram avaliados pelo MEC:
Bacharelado e licenciatura
Agronomia
Biomedicina
Educação física
Enfermagem
Farmácia
Fisioterapia
Fonoaudiologia
Medicina
Medicina veterinária
Nutrição
Odontologia
Serviço social
Terapia ocupacional
Zootecnia
Tecnológicos
Agroindústria
Agronegócios
Gestão hospitalar
Gestão ambiental
Radiologia
Públicas mais bem colocadas
1 Universidade Estadual de Campinas
2 Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA)
3 Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho (MG)
4 Universidade Federal de Lavras
5 Universidade Federal do Rio Grande do Sul
6 Instituto Militar de Engenharia (RJ)
7 Universidade Federal de São Paulo
8 Universidade Federal de Minas Gerais
9 Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto
10 Universidade Federal de São Carlos
11 Fundação Universidade Federal de Viçosa
12 Faculdade de Tecnologia de Mococa
13 Centro Universitário Municipal de São José
14 Universidade Federal do Rio de Janeiro
15 Universidade Federal do Triângulo Mineiro
16 Universidade Federal de Itajubá
17 Universidade Federal de Santa Catarina
18 Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre
19 Universidade de Brasília
20 Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
USP é meta do governo
A próxima meta do governo federal é tentar incluir no Enade a Universidade de São Paulo (USP), que ainda resiste em participar do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). Com a adesão da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a instituição se tornou a única universidade estadual paulista fora do sistema de avaliação do Ministério da Educação (MEC).
A esperança do ministro Fernando Haddad é de que, com o resultado bastante positivo da Unicamp, a USP se anime. “Vamos fazer agora um escândalo para a nossa USP participar dos Sinaes. O convite está sempre reiterado”, disse.
Apenas as universidades federais e particulares são obrigadas a participar do Enade. As estaduais, embora sejam sempre convidadas, podem se recusar a fazê-lo. (GC)
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